Repercutiu (o termo está na moda) há cerca de dois meses atrás uma reportagem do periódico alemão Der Spiegelsobre o possível uso por Israel de armas nucleares para armar seus submarinos fornecidos pela Alemanha.

Teci algumas considerações na época sobre o assunto no Grupo, pontuando sobre a notícia sumarizada neste LINK:

The German news magazine Der Spiegel has published a report that claims submarines purchased by Israel from Germany are being armed with nuclear weapons after their delivery.
Porque será que eu não estou surpreso?

Three of the submarines in question were recently sold to Israel, with the German government picking up part of the tab. Three more are to be delivered by 2017.
Os três primeiros barcos entraram em serviço entre 1999 e 2000. Recente, né? O primeiro dos outros três foi entregue à Marinha israelense em 5 de março de 2012:
http://www.jpost.com/Defense/Article.aspx?id=268588
O terceiro barco, que é uma encomenda adicional (feita em 21 de março de 2012) aos 2 originalmente encomendados em 2006 é que deve ser entregue por volta de 2017.
Der Spiegel já foi mais bem informada…

Additionally, Germany is said to have known about Israel’s nuclear weapons program since 1961.
Quem não sabia? Os franceses construiram o reator de Dimona, os britânicos ajudaram com água pesada, os alemães “perderam” uns desenhos de centrífugas de urânio da URENCO, os americanos até hoje não sabem onde foi parar aquele plutônio sumido da usina de Savannah…

Israel’s alleged capability to outfit the submarines with nuclear weapons was not previously known.
Só eu sei disso há mais de 10 anos… Tudo começou quando Clinton se recusou a vender Tomahawks para os israelenses. Israel tinha um míssil chamado Popeye, um bichinho tão bom que até a USAF comprou e usa com o nome de AGM-142 Have Nap. Então a idéia foi trocar o motor-foguete do missil por um turbo-jato, aumentar o alcance e conseguir um “Tomahawk Tabajara”.
Em maio de 2000 os israelenses fizeram um teste de tiro no oceano Indico, com um alcance de 1.500 km (o lançamento foi registrado por um navio da US Navy).
Some 1.500 km de alcance com uma ogiva nuclear…

A spokesman for the Israeli foreign ministry told the AFP news agency that it was no secret that Israel had German submarines.
Não é mesmo. Tudo começou na Guerra do Golfo, quando vazou a ajuda que as indústrias alemãs tinham dado ao programa de armas de Saddam. Bom, todo mundo ajudou Saddam: americanos, russos, franceses, brasileiros, a turma do Chavez…
Mas junte Israel, Alemanha e GÁS na mesma frase e… Pegaram, né?
Então a Alemanha concordou em pagar por 2 submarinos classe Dolphin, baseado no modelo U-209. Israel acabou comprando um terceiro (com um bom desconto, claro…).
Esses 3 novos, encomendados em 2006, são uma atualização baseada no novo U-212, com eletrônica modernizada e o sistema de propulsão independente AIP.
A Alemanha vai pagar um terço do preço das 2 primeiras unidades (como “incentivo fiscal” pros estaleiros, mas mais por costume mesmo…) e Israel aumentou a encomenda com um barco extra, que vai pagar full: um bilhãozinho de euros, more or less.

“As for the rest,” said Yigal Palmor, “I am not in a position to talk about their capacity.”
Eu também não falaria. O último que falou demais sobre armas nucleares israelenses, um tal de Mordechai Vanunu, pegou 18 anos numa prisão de segurança máxima, sendo 11 numa solitária. E isso porque o Mossad não pegou ele antes de abrir o bico, senão ele teria engrossado as estatísticas de acidentes de trânsito de Israel…

Steffen Seibert, spokesman for German Chancellor Angela Merkel, said the submarines were delivered unarmed.
Sem armas, mas com os sistemas de armas. E o estranho nesses subs israelenses é o seguinte: eles tem 10 tubos de torpedos ao invés dos 8 que são padrão no modelo U-209 no qual os Dolphins foram baseados. Desses 10 tubos, 6 são de calibre 533mm, o calibre padrão de torpedo pesado no Ocidente. Os outros 4 são de calibre 650mm, que é o padrão russo de torpedo pesado. Isso é estranho. O 650mm foi desenvolvido pelos russos como “matador de porta-aviões”, normalmente armado com ogivas nucleares, o que faz sentido dentro da doutrina naval russa, mas não faz nenhum sentido para os israelenses se pensarmos em guerra convencional. Quais as possíveis outras vantagens de um tubo de torpedo maior? Bom, para lançamento de minas permite o emprego de minas maiores. Também permite o lançamento de DSVs, veículos de transporte de mergulhadores de combate. Nada disso justifica a complicação de operar dois calibres de torpedos. Os próprios russos normalmente usam o torpedo de 533mm, usando um adaptador no tubo de 650mm. Foi um defeito num desses adaptadores que provavelmente causou a explosão que afundou o submarino Kursk em 2000.
Outra vantagem dos tubos maiores é no lançamento de mísseis encapsulados: logicamente ele permite o uso de mísseis maiores. Os americanos tiveram um bocado de trabalho para enfiar um Tomahawk numa cápsula que coubesse num tubo de 533mm. Um bom engenheiro consideraria a possibilidade de aumentar os calibres dos tubos. Os israelenses são ótimos engenheiros…

“The federal government will not speculate on subsequent arming,” he told Der Spiegel.
No que faz muito bem. Mas eu especulo mais um pouco: porque Israel vive deslocando um dos seus 3 submarinos para o Mar Vermelho, tendo o trabalho de dar a volta na Àfrica ou de ter de usar águas “não-amigas” como as do Canal de Suez e do Estreito de Tiran? Para proteger seus 10 quilômetros de litoral no Mar Vermelho, enfraquecendo a defesa de sua costa mediterrânea, por onde os palestinos recebem armas e desembarcam comandos terroristas? Pior, porque arriscar um barco importante desses num cruzeiro pelo Oceano Indico? Quais os interesses de Israel na região? Uma dica: peguem um mapa e tracem um círculo de 1.500km ao redor de Bagdá, Damasco e Teheran…
Mais interessante: Israel é uma das nações com maior proporção de cidadãos com dupla cidadania. Muitos israelenses são imigrantes recentes ou descendentes de primeira geração de imigrantes que mantém fortes laços com suas pátrias originais. Recentemente a força de submarinos israelense colocou em vigor uma norma proibindo a dupla cidadania entre os membros do serviço. Quem quiser servir a bordo dos Dolphins deve renunciar à qualquer outra cidadania.
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-4187233,00.html
Isso não é inédito, mas a renúncia à segunda cidadania sempre era exigida em postos que exigissem acesso a informações de segurança nacional. O que tem assim de tão “TOP SECRET” à bordo de um submarino convencional para exigir lealdade absoluta?
Eu não sei de nada, mas desconfio de muita coisa…
Aposto que à bordo desses barcos tem umas coisinhas interessantes, com uma marca mais ou menos assim:
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“Mulher nunca deveria ser soldado de infantaria”, escreveu a capitã dos Marines Katie Petrônio na revista Marine Corps Gazette, segundo informou a agênciaLifeSiteNews.

No artigo intitulado “Chega disso! Nós não fomos criados todos iguais”, a capitã defende que a anatomia feminina não é capaz de resistir às asperezas de uma longa carreira militar que envolve operações de infantaria.

“Cinco anos depois, eu não sou fisicamente a mulher que já fui, e meus pontos de vista a respeito de a mulher ser bem sucedida numa carreira duradoura na infantaria mudaram muito”, escreveu Petronio.

“Eu posso dizer, com base na minha experiência pessoal direta no Iraque e no Afeganistão, e não é apenas uma impressão, que nós ainda não começamos a analisar e a compreender as questões específicas de saúde do gênero e os danos físicos nas mulheres por causa de contínuas operações de combate”.

Petronio “participou em numerosas operações de combate” que por vezes duravam semanas, sofrendo stress e falta de sono.

Suas pernas começaram a se atrofiar, perdeu a mobilidade, perdeu peso, parou de produzir estrógeno e desenvolveu uma síndrome no ovário que a deixou estéril.

Matéria completa AQUI.

O submarino, munido de mísseis de cruzeiro, esteve durante um mês em navegação nas águas do golfo do México. Ele foi detetado somente quando deixava esta região. A informação foi difundida pela editora americana Washington Free Beacon que cita altas fontes não mencionados do Pentágono.

O submarino multimissão russo, projeto 971 ou, de acordo com a classificação da OTAN, Tubarão, patrulhou durante várias semanas de junho e julho deste ano o litoral americano. Os satélites e sensores hidroacústicos americanos não conseguiram detetar a sua presença neste local. O submarino foi intercetado somente quando mostrou aos americanos o seu “rabo”.

Matéria completa no site da VOZ DA RÚSSIA

O que me chamou a atenção foi essa passagem:

Mas é pouco provável que a informação tivesse “transpirado” por acaso. Desta maneira o Pentágono procura convencer o Congresso a destinar mais dinheiro para fins militares,- supõe Alexander Khramchikhin, perito do Instituto de Análise Política e Militar.

“Estou certo de que toda esta informação tem em vista o orçamento. É que agora o orçamento militar americano atravessa uma fase de grande redução. Portanto, esta campanha de propaganda visa evitar os cortes de despesas na Marinha de Guerra.”

A Guerra Fria acabou. E embora Putin, ex-KGB e Cold Warrior at heart compreensivelmente sinta saudade dela (AQUI ele encontra seu grande ídolo, ele é o ‘turista inocente’ com a câmera no pescoço à direita…), dificilmente ela voltará. Para tristeza de uma legião de viúvas de todos os matizes ideológicos.
E como está difícil arrumar verbas militares, cada vez que acontece uma coisa dessas (e acontece o tempo todo, dos dois lados) o lobby das Forças Armadas (que inclue os que tem interesses na construção das armas, não só as industrias mas as cidades e estados onde essas industrias ficam: lobby é uma atividade perfeitamente legítima, ao contrário do que muitos pensam!) bota a boca no trombone.
No caso aqui, o problema é que os SSNs da classe Seawolf, que deveriam substituir a classe Los Angeles, tiveram sua construção cancelada depois de 3 barcos por questões de custo: sem a Marinha russa como ameaça e com a Marinha chinesa sendo um marinha de águas verdes, ficou difícil justificar um barco que custa 30 e tantos BILHÕES de dólares por cabeça.
Como alternativa mais barata, projetou-se a classe Virgínia (só US$ 2,4 bilhões por barco), menor, mais adaptada aos conflitos de baixa intensidade que se esperam para o futuro, usando o máximo de COTS (Comercial Off-the-Shelf, componentes e sistemas já disponíveis na indústria, de uso geral, ao invés de equipamento desenhado especificamente para ele) e com uma mãozinha dos primos britânicos, que cederam parte da tecnologia já testada e aprovada em seus SSNs classe Swiftsure.
O problema é: se você achar picanha sendo vendida pelo preço de carne de segunda, desconfie. Mais barato normalmente significa menos capaz (se bem que nem sempre mais caro signifique melhor…).
Hoje os americanos tem em sua frota aqueles 3 Seawolf, entre 20 e 40 dos velhos Los Angeles em serviço ativo (depende da fonte e da definição de serviço ativo, dos 60 e tantos Los Angeles construidos menos de 10 estão operacionalmente mortos, em caso de necessidade dá pra colocá-los de volta no mar), e 9 Virginia ativos mais 9 em diversas fases de acabamento.
Esses novos Akulas russos são muito bons barcos: Tom Clancy em “A Soma de Todos os Medos” diz que os americanos consideravam os últimos modelos de Akula como equivalentes aos primeiros Los Angeles (com uma pequena ajuda dos japoneses e noruegueses). Clancy escreve ficção, mas costuma ser bem informado.
Embora seja geralmente considerado que um SSN Virginia supera um Akula, a questão é: supera por quanto? O suficiente para equiparar os efeitos de uma tripulação desgastada por um mês de situação de combate versus uma tripulação fresca? O suficiente para anular as “sortes e os azares da guerra”?

Como era previsível, sendo uma versão feita para ser uma alternativa barata ao Seawolf, o Virginia é inferior.

Há relatos que a nova classe Astute britânica não perde em nada, se é que perde em algo para a classe Virgínia.

Então a pergunta é: será que o 3º melhor submarino do mundo é bom o suficiente para defender as costas norte-americanas?

Faca-Baioneta do EB?

agosto 17, 2012

Um amigo meu, irmão de armas, fez uma consulta por e-mail à TCHURMA:

“em 2008, adquiri, de uma senhora no Mercado Livre, uma faca-baioneta, que, segundo ela, pertenceu a um parente falecido, este tendo sido militar em Caçapava-SP. Na época, ela não me deu mais detalhes, mas eu sabedor que Caçapava possui duas unidades de infantaria do EB, achei que o artigo era original e comprei, até por estar em um preço muito bom. (…)

A lâmina é composta de um aço tipo escovado ( não parece ser só aço carbono, simples), de 5mm de espessura, peso bem distribuído, e seu fio é surpreendentemente afiado, muito resistente e não perde corte fácil, mesmo com materiais duros. Na parte de baixo da lâmina, existe uma marcação MK030570, e do outro lado M9 PHROBIS CUK, esta, acredito eu, fazer referência ao tipo de aço usado na faca.

A bainha é bastante interessante, feita de material plástico de alto impacto, nylon, com porta pedra de afiar e prendedor metálico para cinto de utilidades, um sistema para encaixe da lâmina servindo de alicate para arame farpado e etc (cortei um prego pequeno com ele).

Achei interessante a trava para fuzil, em forma de presilha, na parte de traseira do cabo.
Tirei algumas fotos, bem detalhadas.
Gostaria que os senhores dessem uma olhada e opinassem.”

Vamos por partes:

É uma faca-baioneta M-9, desde 1987 a baioneta regulamentar americana que substituiu a antiga M-7 (que no entanto continua em uso):

Phrobis é o nome da empresa do seu desenhista, Charles Mickey Finn, quando ainda detinha os direitos de patente, que hoje pertencem ao US Army.
CUK é a abreviatura de Combat Utility Knife, faca de combate utilitária.
As M-9 originais foram feitas pela Buck Knives Co. americana, como sub-contratada da Phrobis (que não tinha fábrica própria).
Abaixo fotos mostrando as marcações de uma M-9/Phrobis original:

Facas como a sua, com a marcação MK030570, são cópias chinesas feitas para o mercado militar. Quando em bom estado como a sua custam entre 50/60 dólares e são consideradas boas facas, bem acima da média dos produtos chineses.
Como essa baioneta é específica para fuzis da família M-16/M-4, sendo incompatível com os FAL e Para Fal do EB, creio que seja uma aquisição particular do militar em questão, inclusive porque se não fosse ela não estaria à venda, não legalmente…
Curiosidades:
O desenhista desta faca, Mickey Finn, se especializou em projetar armas para “propósitos especiais” para o governo americano. Esta faca é derivada de um outro modelo, menor, que ele desenhou para as unidades SEAL da Marinha americana.

Finn chegou a ser personagem de um livro de Tom Clancy, “O Cardeal do Kremlin”, uma publicidade bastante incômoda que o forçou a fechar sua empresa.
Hoje ele desenha e vende produtos para golfe, segue sendo o melhor no que faz e ganhando um bom dinheiro.
E eu sou uma virgem Vestal se ele ainda não faz uma consultoriazinha por fora para o Pentágono!

Meus amigos e os raros visitantes eventuais (um ou dois no máximo) que ainda não desistiram de passar por aqui e ver se eu tinha voltado a escrever sempre me perguntavam porque eu parei com o “General”.

A resposta é simples: sem-vergonhice pura e simples.

Bom, deixa pra lá e vamos tentar retomar.

Algo diferente, pra recomeçar:

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Essa interessante peça de artilharia (à direita na foto, senhores…) é um canhão-revólver Hotchkiss modelo 1874, calibre 37mm.
Parece mas não é uma Gatling: numa Gatling cada cano é um fuzil de tiro simples, cujo ferrolho avança e recua num trilho em espiral à medida que a manivela é girada.

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No Hotchkiss há um bloco de culatra fixo que faz todo o processo de tiro à medida que os canos giram.
A coisa funciona ASSIM.

O local é o FORTE DE COPACABANA, um local maravilhoso dentro de uma ainda mais Maravilhosa Cidade, mas que como ela, precisa ser melhor cuidado…

Falando em Hotchkiss e Gatling, enquanto eu trabalho em algo interessante sobre METRALHADORAS MECÂNICAS para colocar aqui, sugiro que dêem uma olhada neste canal do Youtube, com uma série esclarecedora de animações sobre como funcionam essas jóias de relojoaria mortífera.

Bom, that´s all por enquanto, folks! É bom estar de volta.

PS: agradecimento ao meu irmão de armas, Lettow-Voerbeck, do CLUBE DOS GENERAIS, pelas fotos tiradas no EN-CG/2011-RJ!

BAIXAS

fevereiro 18, 2007

Emaciado e debilitado, Sasan Safavian fala com muita dificuldade. Nos 18 meses anteriores perdeu 18 quilos. O iraniano Safavian começou a agonizar em 1983, quando – como voluntário aos 16 anos no serviço de ambulâncias – foi vítima não apenas uma mas duas vezes de ataques iraquianos com armas químicas. “Por toda a parte havia sapos e aves caídos, mortos. Minha garganta começou a sangrar e bolhas cheias de sangue surgiram em todo o meu corpo. Não acreditávamos que um país muçulmano seria capaz de usar armas químicas contra outros muçulmanos.” O governo do Irã fornece a Safavian inaladores e sacos de medicamentos que o ajudam a sobreviver, mesmo não havendo cura para os estragos causados em seu corpo pelos gases tóxicos iraquianos.

Já o atual governo russo nega, como seu antecessor soviético, responsabilidade pelo destino de Alexander Vyatkin. As autoridades disseram que um lote de ‘carne estragada’ provocou, em 1979, a morte dele e de no mínimo 67 outras pessoas em Sverdlovsk. Ninguém explicou porque se usaram trajes de proteção NBC para lidar com vítimas de intoxicação alimentar. Aos 80 anos, Olga Vyatkina apoia-se numa bengala enquanto fita impassível a sepultura coberta de neve onde enterrou seu filho único, de 27 anos. Ele desmaiou na rua, a alguns quarteirões do Bloco 19, onde o Exército Vermelho produzia secretamente anthrax como parte do vasto programa soviético de armas biológicas. “Eles anotaram ‘septicemia’ no atestado de óbito. Só depois começamos a ouvir rumores de que havia sido o anthrax. Os funcionários do necrotério recusaram-se a vestir o corpo. Até hoje ninguém jamais nos disse que o anthrax o matou. Tudo o que fizeram foi nos dar 40 rublos, com os quais compramos roupa para o funeral.”

Em 1998, alarmado com a ameaça de guerra biológica, o Pentágono começou a vacinar os militares americanos contra o anthrax. Ronda Wilson era a única piloto feminina de sua esquadrilha de helicópteros. Ela deixou de menstruar após a primeira dose da vacina. Depois, perdeu um terço do peso, devido a uma paralisia estomacal. Ao saber das vítimas – incluindo 3 mortes – causadas pela vacina, os militares começaram a se recusar a tomá-la. 400 vítimas da vacinação se afastaram – ou foram afastadas – do serviço militar. Condenada à terra, Ronda Wilson passa a maior parte do dia deitada em posição fetal, a única em que encontra algum conforto. Anthrax inalável é letal em quase 100% dos casos. Os especialistas consideram que, diante disso, os efeitos colaterais da vacina são aceitáveis. O governo americano planeja estocar vacinas também para civis.
Em 1995 membros da seita Aum Shinrikyo liberaram gás Sarin no metrô de Tóquio, matando 12 pessoas. Desde esse dia, Sumiko está em estado vegetativo. Seu marido, Yoshiyuki Kouno não odeia os terroristas que deixaram inválida sua mulher. Ele não tem tempo para isso. Toda noite, ao voltar do trabalho, ele vai visitá-la, passa loção nas mãos e no rosto dela, a abraça e conta como foi seu dia. Tem feito isso nos últimos sete anos.
Sumiko volta à casa de repouso depois de mais uma de muitas estadas no hospital – dessa vez por causa de uma pneumonia. Lynn Johnson, repórter da National Geographic que registra a cena, nota que o intérprete japonês que a acompanha tem lágrimas os olhos:

“Ele está dizendo a sua mulher o quanto ela é bonita.”

FONTE: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL, EDIÇÃO NOVEMBRO/2002

PERGUNTE A QUALQUER MARINE…

fevereiro 18, 2007

Pergunte a um Marine o que é tão especial no Corpo de Fuzileiros e a resposta será: “esprit de corps”, uma inútil expressão francesa que significa exatamente o que parece: o Espírito da Corporação. Mas o que é esse espírito, e de onde ele vem?
O Corpo de Fuzileiros é o único ramo das Forças Armadas americanas que recruta pessoas especificamente para lutar. O Exército enfatiza o desenvolvimento pessoal, a Marinha promete diversão (“deixe a Viagem começar!”), e a Força Aérea oferece segurança (“é um grande Estilo de Vida”). Escondido por baixo de toda essa propaganda de recrutamento, esconde-se o fato que a vida de um soldado comporta muito sofrimento e a possibilidade real de morrer e matar. Até a música temática dos serviços reflete essa evasão da realidade. A Canção “Caisson” do Exército descreve um agradável passeio pelo campo, por vales e montanhas: só falta uma cesta de piquenique! “Anchors Aweigh”, a Marinha celebra as alegrias de navegar. O Hino da Força Aérea é um poema lírico sobre céus azuis e potência de motores. Tudo muito alegre, revigorante e seguro. Sem minas nos vales nem franco-atiradores nas colinas, sem submarinos e mísseis ameaçando seu cruzeiro oceânico, sem bandidos espreitando além no selvagem céu azul.
O Hino dos Marines, em contraste, é puro combate. Nós lutamos as batalhas do nosso país, os primeiros a lutar pelo direito e liberdade, nós lutamos em qualquer clima e lugar…
A escolha é deixada clara. Você pode se juntar ao Exército para treinamento, ou ir para Bangkok por conta da Marinha, ou fazer um curso de Informática pela Força Aérea. Você engaja nos Marines para ir à guerra.
Mas o simples fato de se alistar não significa nada no Corpo. O recruta do Exército é avisado no primeiro minuto em que ele veste seu uniforme que “você está no Exército agora, soldado. Marinha e Força Aérea encaminham seus recrutas direto do ônibus para o centro de treinamento. Os recém-chegados ao “boot camp” dos Marines são chamados de recrutas, praças, ou pior (muito pior!), mas nunca de Marines. Não ainda, talvez nunca. Ele ou ela deve conquistar o direito de ser chamado por esse título: qualquer falha te mandará de volta á vida civil sem hesitação ou cerimônia.
História? Pare um soldado na rua e pergunte o nome de uma batalha da Primeira Guerra Mundial. Escolha um marinheiro ao acaso para descrever a luta épica do Bon Homme Richard. Todos conhecem a Base Aérea McGuire, pergunte a um aviador que foi Thomas B. McGuire e porque ele é tão celebrado. Eu não estou criticando e não há zombaria nessa crítica. Todos os serviços tem tradições gloriosas, mas nenhum ensina ao jovem soldado, marujo ou aviador o que o seu uniforme significa e porque ele deve se orgulhar em vesti-lo.
Mas pergunte a um Marine sobre a Primeira Guerra Mundial, e você ouvirá sobre o campo de trigo da Floresta Belleau e da coragem da Quarta Brigada de Fuzileiros. Enfrentando um inimigo em superioridade numérica e bem entrincheirado, os Fuzileiros receberam ordens para um ataque que não poderia sequer ser chamado de imprudente: era insano! Suporte de artilharia não havia, apoio aéreo ainda não havia sido inventado, e assim a Brigada carregou contra as metralhadoras alemãs com baionetas, granadas e indomável Espírito de Luta!
Um baixinho de pernas tortas, sargento-artilheiro Daniel J. Daly, comandou sua companhia com um grito:
“VAMOS LÁ, SEUS FILHOS DA PUTA! VOCÊS QUEREM VIVER PARA SEMPRE?”
Ele tomou sozinho três metralhadoras, e só não lhe deram a Medalha de Honra por um pequeno detalhe: ele já tinha duas delas…
Os oficiais de ligação franceses, endurecidos por quatro anos de carnificina nas trincheiras, ficaram chocados com a carga dos Marines por um trigal aberto, com sol a pino e direto na direção do fogo inimigo!
Uma ação tão anacrônica num campo de batalha do século XX que eles poderiam muito bem ter atacado com machadinhas e sabres de abordagem!
Mas o inimigo era apenas humano, e foi demais para ele. E assim os Marines tomaram a Floresta Belleau.
Cada Marine conhece essa história, e dúzias mais. É parte do currículo regular no Campo das Botas. Cada Marine sempre será ensinado sobre isso.
Você pode aprender a usar uma máscara de gases o tempo todo, mesmo num avião a caminho da zona de guerra, mas antes de usar o emblema e ter direito ao título de Marine você deve saber sobre os Marines que o usaram antes de você, que fizeram desse emblema e título o que ele é. Além de marchar e atirar e reverenciar a herança do Corpo, você deve tomar seu lugar na Linha.
E a Linha é tão unificada em Espírito quanto em Propósito. Um soldado usa as insígnias do serviço, as divisas e patches que identificam sua unidade. Marinheiros usam o distintivo que identifica o que eles fazem ou fizeram pela Marinha. Marines usam apenas a Águia, o Globo e a Âncora, juntamente com suas fitas pessoais e os estimados distintivos de perícia em tiro. Não há nada no uniforme de um Marine que indique o que ele ou ela faz, nem (exceto pelo 5º e 6º Regimentos, que usam um distintivo francês por Belleau) a que unidade um Marine pertence. Você não pode dizer olhando para um Marine se ele é motorista de caminhão, programador de computadores ou artilheiro. O Corpo justifica isso como medida de segurança para camuflar e esconder a identidade e localização das unidades, mas a propensão do Corpo por publicidade faz dessa explicação no mínimo bem improvável.
Não, o Marine é amorfo, anônimo (nomes nos uniformes só foram adotados em 1992), por escolha consciente. Cada Marine é um Fuzileiro em primeiro e último lugar, e principalmente membro do Corpo em primeiro, último lugar e sempre. Você pode servir seu período de quatro anos de alistamento ou até se aposentar com vinte anos de serviço sem ver ação, mas se a ordem for dada, você carregará através daquele campo de trigo.
O fato de um Marine ser treinado em Logística, mecânica de motores ou aviônicos é irrelevante. Essas coisas são secundárias – o Corpo as faz por necessidade. O campo de batalha moderno requer habilidades técnicas, e como o inimigo as tem, nós as temos também.
Mas nenhum Marine se orgulha disso. Nosso forte é nossa pontaria, nossa disciplina, e nossa participação numa fraternidade de coragem e sacrifício.
“Em honra aos caidos, pela glória dos mortos”, Edgar Guest escreveu na Floresta Belleau, “a Linha Viva da Coragem mantém a Fé e segue em frente.”
Todos eles já se foram agora, aqueles Marines que fizeram de um pequeno campo de trigo numa fazenda francesa uma lenda do Corpo. Muitos deles não viram o fim daquele dia, e oito longas décadas levaram o restante. Mas os seus atos os fizeram imortais. O Corpo se lembra deles e honra o que eles fizeram, e assim eles viverão para sempre.
O desafio gritado por Dan Daly toma aqui seu verdadeiro significado: se você se esconder nas trincheiras você sobreviverá por enquanto, mas morrerá um dia, e quem irá ligar? Se você carregar contra as metralhadoras talvez esteja morto no minuto seguinte, mas se tornará um dos Imortais.
Todos os Marines morrem, no clarão rubro da batalha ou no frio gelado de um asilo. No vigor da juventude ou na debilidade da idade todos irão inevitavelmente morrer, mas o Corpo vive. Cada Marine que viveu algum dia ainda vive nele, nos Marines que ostentam o título hoje.
É esse senso de pertencer a alguma coisa que ultrapassa a sua própria mortalidade que dá às pessoas uma Luz por qual viver e uma Chama para marcar sua passagem pela Terra.
Os Marines chamam isso de “esprit de corps”.
(do Manual FMFM1-WARFIGHTING, US MARINE CORPS, 1989)

Tributo às legiões

fevereiro 18, 2007

A herança militar romana vive

(artigo originalmente publicado na Revista eletrônica Front, edição 01, julho/agosto de 2004)

“You can fly over a land forever; you may bomb it, atomize it, pulverize it and wipe it clean of life but if you desire to defend it, protect it, and keep it for civilization you must do this on the ground, the way the Roman Legions did, by putting your young men into the mud.”
T.R. Fehrenbach, This Kind of War

“O acampamento das forças de ocupação fervilha de atividade. Os informes de Inteligência indicando uma iminente incursão por parte das forças inimigas foram confirmados pela descoberta dos restos mutilados de uma patrulha de reconhecimento dada como desaparecida. A unidade que fez o achado procedeu a uma busca de casa em casa numa localidade próxima, usando de força excessiva no trato com a população local, suspeita de dar abrigo aos atacantes. As queixas das autoridades nativas levaram o Comando a indiciar em corte marcial os responsáveis pelo ato, que aguardam detidos o desenrolar do processo. Ninguém quer que a situação se complique ainda mais com uma revolta popular. Engenheiros de combate reforçam as defesas externas do campo com trincheiras e armadilhas. Armas de apoio foram distribuídas ao longo do perímetro e os turnos de sentinela, reforçados. No interior do acampamento, ao cair da tarde, os homens se preparam para recolher-se a suas barracas, aproveitando as últimas horas do dia para efetuar a manutenção das armas, enquanto trocam piadas e estórias. Veteranos de campanhas pelos quatro cantos do mundo conhecido recordam e aumentam suas façanhas, conseguindo a admiração boquiaberta dos recrutas. Dois grisalhos combatentes conversam animadamente sobre seus planos para aposentadoria, um deles já tendo dado entrada na burocracia necessária. Ambos debatem acaloradamente o valor das pensões e outros benefícios, sendo discretamente observados por um recruta de aparência estrangeira. Este recebeu sua cidadania condicionada ao serviço militar e vê, no recrutamento, uma porta de acesso ás bênçãos da maior nação de todos os tempos. No crepúsculo, enquanto as sombras tomam conta do mundo, uma patrulha de reconhecimento retorna. Seu comandante dirige-se ao QG, no centro da guarnição, para reportar suas observações, enquanto os soldados se apressam em busca de uma refeição quente para encerrar o dia. Dois jovens oficiais conversam animadamente sobre as últimas novidades da produção cultural e da moda lá no centro do mundo. Receberam notícias frescas pelo último correio, juntamente com cartas melosas de suas noivas. Privadamente ambos já se confessaram a intenção de usar a carreira militar como trampolim para uma futura carreira política, ajudados por contatos familiares. Nas trevas, nativos furtivos procuram os oficiais de inteligência, para efetuar seus informes e receber a paga de sua lealdade“.

As cenas acima, que poderiam ser uma descrição do que se passou no Iraque ocupado sob as forças americanas este ano, são uma reconstituição mais do que provável de eventos ocorridos em Inchtuhill, guarnição romana anexa á linha de defesa norte da Inglaterra romana contra incursões dos bárbaros pictos e escotos das Terras Altas no fim do primeiro século depois de Cristo. Inchtuhill, a Pinatta Castra dos romanos,é o exemplar mais completo já achado de um acampamento militar romano. E através dele, vemos que muito do que hoje faz parte do dia-a-dia militar pode ter suas raízes traçadas até os dias das Legiões.

Até os cabelos – Todos os anos milhões de jovens ao redor do mundo ingressam na vida militar, como voluntários ou conscritos, servindo a todo tipo de regime e continuando as mais diversas tradições militares. Porém, uma coisa todos têm em comum: o ritual de cortar os cabelos, significando o abandono de sua individualidade e a adesão a algo maior que eles mesmos. O que nenhum deles imagina é que esse ritual remonta aos romanos e tinha razão prática: o corte raspado, curto impedia que o inimigo agarrasse pelos cabelos no combate corpo-a-corpo.

Disciplina de campo – Se a sua tropa fosse dizimada, como é que você ficaria? Na verdade, ficaria com 90% dela ainda… A decimatio era uma punição extrema aplicada contra unidades inteiras, geralmente por motim ou covardia diante do inimigo. Consistia na execução de 1 em cada 10 soldados da tropa, escolhidos por sorteio. A execução era levada a cabo pelos outros 9 legionários, usando as estacas das barracas. Morte a pauladas…

Reconhecimento e inteligência – Oficiais de inteligência eram conhecidos como speculatores. Dominavam a língua e os costumes dos países ocupados, e ocasionalmente trabalhavam sob disfarce. Batedores especialmente treinados, geralmente agindo em patrulhas de reconhecimento a cavalo, eram chamados exploratores.

Armas – Scorpio, a “ponto-cinquenta” romana – Similar a uma besta medieval ampliada, o Scorpio (escorpião) disparava flechas de ponta de ferro de 70 cm ou balas de chumbo. Era usada do mesmo modo que as metralhadoras atuais, para fogo de apoio e supressão. Seu alcance chegava a 370 metros e podia ser operada por um ou dois homens. Algumas eram equipadas com um carregador de flechas, sendo capazes de tiro rápido. Era uma arma de trajetória tensa, rápida, precisa e mortal. César conta que no cerco de Avaricum uma delas caçou homem após homem dentre os defensores das muralhas gaulesas.

Serviço militar e cidadania – A Espanha iniciou, em 2003, um programa de atração de imigrantes, onde oferecia a seus descendentes na América Latina a cidadania plena, condicionada à prestação do serviço militar. Na verdade, nada de novo. Nas legiões romanas, as tropas auxiliares estrangeiras também recebiam a cidadania depois de prestado o período de serviço militar (25 anos).A cidadania romana, com todos os seus benefícios (isenção de impostos, status legal diferenciado, participação nas distribuições de mantimentos estatais, etc.) era extensiva a toda a família do agraciado e era concedida por meio de um diploma emitido pelo Imperador. Exemplares desses diplomae são freqüentemente encontrados em escavações de ruínas romanas. O corpo principal da Legião era formado exclusivamente por cidadãos romanos, devendo ser a cidadania comprovada no ato do alistamento.

Pagamento e aposentadoria – O pagamento de um legionário era de 225 denarii (cerca de 50 dólares) anuais, pagos em 3 vencimentos. Era mais que um trabalhador romano ganhava na época e o poder aquisitivo do dinheiro era maior naquele tempo. Centuriões recebiam 3 vezes essa quantia e as tropas auxiliares estrangeiras, cerca da metade. Do pagamento do legionário eram descontados alimentação, roupas e equipamento. Apesar disso, os preços eram baixos e o legionário poderia, se quisesse, guardar boa parte de seus ganhos depositando-os num banco militar. Na época do Império, essa poupança era compulsória. Saque e despojos (praeda), basicamente escravos, aumentavam a remuneração. No ato da aposentadoria por tempo de serviço (honesta missio) o legionário recebia como provisão para a velhice um lote de terra e uma pensão, que na época do Império chegava a 3.000 denarii. Os soldados também eram aposentados por invalidez física (missio causaria), por razões governamentais (missio gratiosa) e por despensa desonrosa (missio ignomiosa). Colônias de veteranos aposentados eram formadas nos territórios conquistados, como postos avançados do Império. Algumas delas foram a origem de grandes cidades existentes até hoje como Colônia, na Alemanha (Colônia Augusta, fundada pelo Imperador Augusto).

A mula de Mário – Quando em marcha, o legionário carregava seu equipamento individual, o que incluía rações para um período de 3 (o mais comum) até 15 ou 20 dias. Também carregava ferramentas (serra, picareta, pá e foice), uma cesta, roupas extras, utensílios de cozinha, panela e copo. De acordo com a quantidade de rações, o peso carregado oscilava entre 15 e 35 quilos, o mesmo peso das mochilas militares modernas. Para facilitar o carregamento da sarcinae, como a tralha do soldado era chamada, tudo era arrumado num embrulho compacto, e levado na ponta de uma vara com forquilha levada ao ombro, chamada pelo nome de seu inventor, a Mula de Mário (muli Mariani). Antes da batalha, os embrulhos eram arrumados juntos, sob guarda. Levando sua carga, o soldado estava em regime de marcha pesada, impeditus. Sem ela, o regime era de marcha ligeira, expeditus. Sob chuva pesada, os escudos eram levados no alto da cabeça do legionário.

Rações e provisões – Trigo sobre a forma de farinha (cibaria) ou grão (frumenta) era a comida básica do legionário, aproximadamente 1kg por dia. Era entregue individualmente para o período de duas a três semanas. A moagem do grão e preparação da comida era feita pelos próprios legionários ou por alguém contratado pelos mesmos. Outros alimentos eram conseguidos por troca ou coleta de campo. Junto com as rações de reserva era carregado por mulas um pequeno moinho manual, onde cada legionário podia moer sua ração de grão. A cozinha era simples: a farinha era misturada com água e cozida na forma de mingau (o puls, de onde provavelmente vem a palavra polenta) ou assada na forma de pão ázimo (sem fermento). Vinho azedo (posca) era a bebida mais comum. Lembra quando o soldado romano dá uma esponja com vinagre pra Jesus crucificado? Pois é, não era maldade. Os legionários bebiam vinagre mesmo…

Treinamento constante – Em tempos de paz ou durante o inverno, instrução constante era levada a cabo, tanto a disciplina de marcha quanto o treinamento com armas. Manobras eram uma parte regular do treinamento e três vezes por mês uma marcha de no mínimo 16 quilômetros era executada. O nível de adestramento requerido dos cavalarianos também era alto. Como entre nós, exercícios e ginástica mantinham os homens em boa condição física e eles eram constantemente endurecidos pelo uso da pá, picareta e enxada, em tarefas constantes de construção e engenharia. Sob o Império, as tropas eram usadas na execução de obras públicas: canais, estradas, pontes, anfiteatros e etc.

Esta versatilidade de treinamento controlada por rígida disciplina se mantém perfeitamente adequada até hoje, na Era Atômica. E, por incrível que pareça, a guerra naqueles tempos era relativamente mais mortífera que nos dias de hoje. Na batalha de Dyrrachium nenhum dos soldados de César deixou a batalha sem ferimentos! Nenhuma lista de baixas produzidas em batalhas modernas entre as assim chamadas nações civilizadas se compara a isso.

“As grandes contribuições de Roma para a ciência militar foram a organização, disciplina, atenção aos detalhes, preparação antecipada e a percepção que as batalhas podem ser ganhas antes mesmo de serem lutadas”
McCartney

Fonte: Internet http://www.globalsecurity.org

TEXTO DE AUTORIA DE ALEXANDRE ZILCH, MEU IRMÃO STEINER DO CLUBE DOS GENERAIS.

 

Abrem-se os fastos da História

Estão livres os Quatro Cavaleiros do Apocalipse!

A Discórdia – A Guerra – A Fome – A Morte

” Em Roma, o Templo de Janus, o Deus da Paz, só se fechava quando a nação estava em paz, o que aconteceu apenas 9 vezes em mil anos… E os seguidores da guerra, atravessaram os séculos…”

 

Está aberta a porta do Templo de Marte!

Guerra! Não existe palavra mais fascinante e mais odiosa. E, com certeza, não há assunto mais palpitante e atraente. Por mais absurdo que pareça, a Guerra goza de um incomensurável prestígio. Em todos os povos, através de todas as épocas, exerceu discricionariamente o seu mórbido fascínio. Teve, tem e talvez terá tantos apóstolos, quanto mártires. Desde o seu nascimento, motivou as atenções de todos os seres humanos. Foi sempre um assunto privilegiado, sobre o qual nenhum filósofo ou pensador, de valor exponencial, deixou de se ocupar.

Friedrich Nietzche cantou a guerra com todo o ardor:

“A guerra é um admirável remédio para todos os povos que começam a enfraquecer-se e a acomodar-se desprezívelmente; excita os instintos que a paz adormenta. Guerra e serviço militar são os antídotos naturais da efeminização democrática”.

“Quando os instintos de uma sociedade fogem da guerra e da conquista, a sociedade está decadente e madura para a democracia e para o governo dos negociantes”.

E o filósofo, em uma notável predição escrita em 1887, dizia:

“Dentro de 50 anos esta babel de governos (as democracias da Europa) irá chocar-se numa guerra gigantesca para a conquista dos mercados do mundo. Mas, talvez, desta loucura sobrevenha a unificação da Europa, um fim para o qual uma guerra de comércio não seria um preço muito alto”.

E continua o filósofo pregador da guerra:

“Deveis amar a paz como meio de novas guerras, e mais a paz curta do que a prolongada. Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja o vosso trabalho, uma luta! Seja a vossa paz uma vitória. Não é possível permanecer calado e estar tranqüilo, senão quando se tem flechas no arco; a não ser assim, questiona-se “a boa guerra é a que santifica todas as coisas. A guerra e o valor tem feito mais coisas grandes do que o amor ao próximo. Não foi vossa piedade, mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos”.

A filosofia de Thomas Hobbes explicou a causa das guerras, que há milênios devastam a humanidade:

“As sociedades políticas gozam do direito de agir conforme a sua conveniência. Por isso mesmo, elas são obrigadas a viver em perpétuo estado de guerra.”

Eloqüente e ornamentoso, Friedrich Hegel cantou a aPologia da hecatombe humana, com uma solene metáfora, na qual o filósofo compara o destino das batalhas e o destino das procelas, sob o mesmo ângulo cósmico.

“A guerra é o estado das coisas, onde a saúde das nações conserva em vigor, como as águas do mar são preservadas da corrupção, pelo sopro das tempestades.”

Joseph de Maistre confessou-se desolado, quando à pacificação das potências:

“A guerra é o estado habitual do gênero humano. Para cada nação, a paz não é mais do que uma espera”.

Eis a filosofia, expressiva e pungente, do eterno dissídio da humanidade.

O “Kronprinz” Frederico Guilherme da Prússia pronunciou o vaticínio inesquecível que ainda hoje ecoa como um assombro:

 

“Até o fim do mundo, a espada será o fator supremo, o fator decisivo”.

 

Realmente, a guerra tem sido assunto preferido dos cronistas e tema caro aos filósofos. Nuvens sombrias, através dos séculos, cobrem os céus da humanidade. Os povos se armam.

A verdade é que a paz universal, em todos os momentos da história, sempre foi uma utopia generosa, sonhada por bons filantropos a serviço do pensamento humano, ou mais simplesmente, um ardil da própria guerra que elegantemente se mascára.

Como ardil, sempre se desmascarou.

Como utopia, até hoje é irrealizável, porque os canhões tem fome e os couraçados tem sede.

A guerra é a monstruosa caça que alimenta esses monstros; é ela, a devoradora de cidades, campos e aldeias; é ela quem digere, após saciada, lares, fábricas, povoações.

E para os industriais da guerra, os capitalistas, com a sua avidez de vampiros do ouro, os povos são algarismos.

Justamente por isso, a paz eterna só existe nos cemitérios: o idílio dos povos e o beijo fraternal das nações são uma realidade insustentável.

Olhando retrospectivamente a história, que tem sido ela nos milênios de seu decurso? Uma sucessão de guerras, uma eternidade de lutas, um morrer sem fim e um acabar para sempre.

O solo da Ásia e da Europa é, em verdade, todo ele, um cemitério de povos, uma vala comum de nações. Cavando-se a terra encontrar-se-á, com certeza, a ossada dos impérios, o cadáver das repúblicas, os restos mortais dos vencidos e dos vencedores.

E os outros continentes, como a América? Não é ela também senão um ossuário de civilizações extintas, destruídas pelo próprio homem?

E a África, lançada aos acasos dos mais cruentos jogos, não é igualmente capítulos esparsos que o tempo destruiu, indo levar o sangue e a carne de seus filhos para morrer como escravos em longínquas terras?

 

Morte e a Guerra, irmãs gêmeas que fazem ouvir atrevidamente sua voz na laje das sepulturas.

O que resta de Cartago? Onde estão os restos mortais de Amílcar e do seu filho, o grande Aníbal? A guerra destruiu e toda uma nação desapareceu…

A guerra acabou com Roma e seus monumentos, extinguiu o império de Carlos Magno, o de Napoleão, o de Hitler… e todos os conquistadores que imaginaram sobreviver a seu tempo e à sua ambição.

Muitos morreram nela, outros em decorrência dela. Vejam os Alexandres e os Césares….

A guerra destrói seus deuses, porquanto na voragem dela, apaga-se a chama dos guerreiros e a glória dos vencedores.

Ao final, somente a Morte é quem vence, o que fica é o cemitério. As ossadas dos vencedores juntam-se às dos vencidos.

Os anos passam, os séculos turbilhonam, as idades correm atrás das idades – e os mortos continuarão mortos.

 

Os Cavaleiros do Apocalipse são os guardiões do Templo de Marte, para mantê-lo sempre aberto…

O que é Guerra?

fevereiro 1, 2007


O que é guerra? Em resumo, é um grupo de pessoas usando de violência para se impor sobre outro grupo. Guerra é um espectro de conflito envolvendo milhares de variáveis. Tiroteio entre gangues locais está no limite inferior desse espectro, e no entanto esses confrontos matam centenas de americanos anualmente. No extremo superior estão nações planejando o controle do espaço sideral. Morte e destruição se distribuem por esse espectro. Por exemplo, um homem armado com um abridor de cartas pode se apoderar de um avião e arremesá-lo contra o Pentágono, matando pessoas ocupadas no planejamento de guerra nuclear em escala global. A missão dos militares é lutar através desse espectro de conflito.
Em anos recentes, tem se falado em uma ‘Revolução nos Assuntos Militares’. A idéia básica é que os avanços tecnológicos tornaram desnecessários exércitos maciços. Guerras poderiam ser travadas por um pequeno número de profissionais bem treinados equipados com armas e dispositivos de alta tecnologia coordenados através de ‘Guerra centrada em redes’. Outros afirmam que nós entramos na ‘4ª geração’ da guerra, onde conflitos entre nações-estados não vão ocorrer: o combate será travado entre soldados de elite e grupos de extremistas tentando manipular a mídia para alcançar seus objetivos políticos. Alguns clamam que essa guerra de ‘4ª geração’ foi concebida por Mao Tse-Tung a algumas décadas e se disseminou pelo mundo.
Esses argumentos são falhos. A História está repleta de conflitos entre aqueles que governam nações e pessoas que rejeitam esse governo. Todos os impérios enfrentaram contínuas rebeliões em que seus oponentes usaram as chamadas táticas de ‘4ª geração’. As numerosas rebeliões dentro do Império Romano são bem documentadas. A palavra ‘guerrilha’ surgiu para denominar a luta da população espanhola contra os exércitos de Napoleão. Igualmente a Grã-Bretanha esteve continuamente suprimindo revoltas por todo o Império, incluindo uma notável rebelião em suas colônias americanas, contra ‘insurgentes’ liderados pelo ‘terrorista’ George Washington.
Exércitos convencionais tem se engajado em combates de ‘4ª geração’ através da História. O termo terrorista foi usado para descrever o Viet Cong, em substituição ao termo mais antigo ‘anarquista’. Antes disso, a palavra ‘assassino’ foi usada desde o tempo das Cruzadas para descrever os fanáticos muçulmanos que cometiam ataques suicidas. Só na Rússia, cinco imperadores foram vítimas fatais de atentados em 200 anos. O mais notável assassinato na história norte-americana foi o do Presidente Abraham Lincoln. Três outros presidentes foram assassinados: James Garfield, William McKinley, e John F. Kennedy. Na Europa o assassinato do Arquiduque Franz Ferdinand detonou a Primeira Grande Guerra.
O desafio dos militares de hoje é lutar através de todo o espectro de conflito. Tecnologia é útil no combate a insurgentes, mas nunca será uma solução para o conflito humano. A nova idéia de Guerra centrada em redes é uma atualização ultra-dispendiosa do velho conceito soviético de centralização do planejamento e controle, exigindo bilhões de dólares em avançados sistemas C4 (comando , controle, comunicação e computação). Distribuição de informação é uma boa idéia, mas o resultado da centralização costuma ser o microgerenciamento por oficiais superiores sem experiência de combate e distantes do local das ações. Sistemas complexos de comando computadorizados requerem tremendo suporte logístico, são sujeitos a falhas, a ataques físicos ou virtuais e possuem ‘características’ que podem ser exploradas pelo inimigo.
O perigo atual para as forças armadas dos EUA é o dreno de recursos causado pela ocupação do Iraque. Guerras futuras no médio e no alto do espectro de conflitos são inevitáveis, visto que a liderança americana está comprometida com a supremacia militar mundial.
O nível atual dos gastos militares americanos é insustentável dada a alta da inflação resultante do aumento de 40% em 5 anos nos gastos federais. A alternativa do governo é entre o corte dos gastos militares ou o aumento dos impostos.

Enquanto isso, o generoso orçamento militar é desperdiçado no Iraque e na compra de material caro e de eficiência duvidosa. A Marinha parece incapaz de desenhar e construir novos tipos de navios, enquanto o Corpo de Fuzileiros gasta bilhões de dólares no azarado programa V-22. A USAF luta para colocar novos tipos de aeronaves em serviço enquanto o Exército não tem planos para novos equipamentos e direciona sua verba para a pesquisa do chamado “Future Combat System”.
Estamos diante de um declínio econômico e militar americano num momento em que nações como China, Coréia do Sul e Índia avançam rapidamente. A ocupação do Iraque piora o problema, com equipamento militar mal utilizado e o treinamento focado em armadilhas explosivas nas estradas, buscas casa a casa e escolta de comboios.
As Forças Armadas americanas podem estar numa espiral descendente, conduzindo a um futuro revés militar, quando os EUA tiverem de lutar no extremo superior do espectro de conflito.
Combater ‘assassinos, anarquistas, terroristas e extremistas’ é pouco mais que um esporte; um confronto de maior envergadura no futuro será algo completamente diferente.

(Prefácio do livro ‘The Spectrum of Future Warfare’, de Carlton Meyer, ex-oficial do US Marine Corps e responsável pelo site www.g2mil.com)